domingo, 9 de março de 2014

O Enredo “Favela” da São Clemente.

Foi de se espantar, ao acompanhar o desfile, via TV, da São Clemente, a empolgação dos integrantes e dos espectadores.

De se espantar também foram os argumentos dados por alguns entrevistados, integrantes da escola de samba, sobre o enredo e o significado para eles. Palavras como “orgulho”, “alegria”, “dignidade”, “respeito”, “justiça” e “reconhecimento” são as que me lembro de pronto, talvez porque foram as mais repetidas.

Agora façamos uma análise mais pormenorizada e cuidadosa sobre o que ocorreu. Uma escola de samba adentra o sambódromo e o seu tema é “Favela”, e vem na tentativa de demonstrar a todos o surgimento, o dia a dia, bem como outras características dessas comunidades.

Contar a história de um fenômeno social é de muita valia, sem qualquer dúvida, porém o que vimos, foi a velha e já desmentida visão romântica desses locais, onde só vivem pessoas pobres e que não têm outra opção de moradia, pois se tivessem, ali já não estariam mais.

Quem tem orgulho de viver em um local sem saneamento básico adequado, fornecimento de água e energia elétrica clandestinos, bandidos ostentando armas de guerra, vendendo drogas e trocando tiros com policiais ou com outros bandidos? Da mesmo forma, como é possível ter alegria, respeito, dignidade e outras características que só são possíveis em um cenário bem diferente do demonstrado pela agremiação carnavalesca?

O que ocorre é o seguinte, quando você romantiza a vida nesses locais, por meio da mídia (que é mancomunada com os governantes e políticos) e das novelas, que exaltam toda a “nobreza” das favelas, não é mais necessário retirar os moradores de lá, resolvendo o problema com pavimento de ruas e pondo meia dúzia de homens armados e fardados dentro de uma caixa de ferro. A prova disso é que a nova classificação de classe média inclui a maioria dos moradores de favelas. Exatamente isso, a Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência (SAE) considera como sendo de classe média as famílias cuja renda per capta situa-se entre R$ 291,00 e R$ 1.019,00 por mês[i]

Exatamente isso, o povo ludibriado pela maravilha de habitar um local que mais se assemelha a um inferno, fala sobre seu “orgulho” e “alegria” de ser favelado.

E para terminar, alguém tinha que ter avisado ao carnavalesco da São Clemente, o Senhor Fábio Ricardo, que faltou uma ala na composição da sua escola, a ala dos traficantes.

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