Foi de se
espantar, ao acompanhar o desfile, via TV, da São Clemente, a empolgação dos
integrantes e dos espectadores.
De se espantar
também foram os argumentos dados por alguns entrevistados, integrantes da
escola de samba, sobre o enredo e o significado para eles. Palavras como “orgulho”,
“alegria”, “dignidade”, “respeito”, “justiça” e “reconhecimento” são as que me
lembro de pronto, talvez porque foram as mais repetidas.
Agora façamos
uma análise mais pormenorizada e cuidadosa sobre o que ocorreu. Uma escola de
samba adentra o sambódromo e o seu tema é “Favela”, e vem na tentativa de
demonstrar a todos o surgimento, o dia a dia, bem como outras características
dessas comunidades.
Contar a
história de um fenômeno social é de muita valia, sem qualquer dúvida, porém o
que vimos, foi a velha e já desmentida visão romântica desses locais, onde só
vivem pessoas pobres e que não têm outra opção de moradia, pois se tivessem,
ali já não estariam mais.
Quem tem orgulho
de viver em um local sem saneamento básico adequado, fornecimento de água e
energia elétrica clandestinos, bandidos ostentando armas de guerra, vendendo
drogas e trocando tiros com policiais ou com outros bandidos? Da mesmo forma,
como é possível ter alegria, respeito, dignidade e outras características que
só são possíveis em um cenário bem diferente do demonstrado pela agremiação
carnavalesca?
O que ocorre
é o seguinte, quando você romantiza a vida nesses locais, por meio da mídia (que
é mancomunada com os governantes e políticos) e das novelas, que exaltam toda a
“nobreza” das favelas, não é mais necessário retirar os moradores de lá,
resolvendo o problema com pavimento de ruas e pondo meia dúzia de homens
armados e fardados dentro de uma caixa de ferro. A prova disso é que a nova
classificação de classe média inclui a maioria dos moradores de favelas.
Exatamente isso, a Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência (SAE)
considera como sendo de classe média as famílias cuja renda per capta situa-se
entre R$ 291,00 e R$ 1.019,00 por mês[i]
Exatamente
isso, o povo ludibriado pela maravilha de habitar um local que mais se
assemelha a um inferno, fala sobre seu “orgulho” e “alegria” de ser favelado.
E para
terminar, alguém tinha que ter avisado ao carnavalesco da São Clemente, o
Senhor Fábio Ricardo, que faltou uma ala na composição da sua escola, a ala dos
traficantes.
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